Os manhuas de Street Fighter – Parte 1

Ou como a Capcom é meio "dorgada"

Nihao people!!!! Eu to devendo essa postagem há um tempo. Cheguei a falar sobre Street of Terminator (no meu antigo blog do Fighters, mas vocês podem ler o artigo aqui), mas não sobre esse manhua.

Antes de começar um esclarecimento: Esse manhua, por incrível que possa parecer, é oficial. Porém, tem uma pequena curiosidade envolvida, que descobri na época que estava na equipe que escreveu o Essencial Street Fighter da WarpZone.

O manhua, que teve 113 edições, foi até o número 64 foi produzido de forma não-autorizada pela Capcom. Do número 65 em diante conseguiram a autorização.

Então para sua alegria (ou desespero, principalmente daquela fan girl insana), irei começar pelo manhua de Street Fighter II!!!! xD

Ele foi lançado em agosto de 1991 em Hong Kong, pela Jademan/Jade Dynasty, com o título de "The King of Street Fighter". Além da história em quadrinhos, a revista vinha com algumas informações do tipo brinquedinhos lançados, eventos japoneses, notícias sobre SF e até mesmo sobre outros games de luta, como Fatal Fury, da rival SNK.

O desenho segue a linha mais realista, porém a arte é bem simples e em alguns quadrinhos chega a ser bem feia mesmo (nesse ponto Street of Terminator dá de 10 a zero). A nível de comparação, veja as páginas abaixo. Note que a da esquerda o traço está horrível, dando a impressão de mal acabado, enquanto a da direita está bem melhor a arte (e ainda deixaram o Guile bonitão xD).

Assim como aconteceu nas revistas brasileiras lançadas pela editora Escala, algumas ilustrações e cenas dos quadrinhos é uma “xerox” (ou versões) de ilustrações oficiais da série, como podem perceber em algumas ilustrações:
“Ok, tia Bia. Mas você enrolou, enrolou e não disse como é o roteiro!” Bem, o roteiro é aquele negócio… Esqueça tudo o que você viu nos games. Tudo mesmo!!! Estilo Street Fighter II V, movie do Van Damme ou movie da Chun-Lana. Irei tentar fazer um resumo resumido, devido a quantidade de edições.

O mundo apresentado ali é após uma grande guerra, mostrando que a sociedade está se reerguendo. Logo de início, Ryu fica enamorado por Chun-Li (Ken chega até ficar fazendo piadinhas) e de fato há um torneio de lutas patrocinados por Vega/Bison, que é nada menos que o padrasto da Chun-Li nesta série. E antes que me perguntem, a mãe dela está viva (e não é flor que se cheire) e sobre seu pai, ele ficou vivo durante um tempinho na série. 

Ele é, pasmem, Gen, que nesse quadrinho também é mestre de Ryu e Ken! O.o E para piorar a bagunça, Blanka é meio irmão de Chun-Li, Eliza dá um pé na bunda no Ken e fica com o Balrog/Vega (o fato de Eliza não querer mais saber de Ken aqui, faz com que ele faça muita merda no decorrer da história), a família do Ken veio do espaço (isso é sério), Ryu é filho de Sheng Long que sucumbiu ao lado negro da força e foi morto (enquanto que a mãe de Ryu se suicidou) e Dhalsim não é um cara legal como nos jogos.  E logo após (pulando várias edições), dessa turminha do barulho aprontar altas confusões, Ryu e cia. conseguem salvar o mundo, estando no futuro (eles devem ter pego o DeLorean emprestado ou a cabine telefônica de Bill e Ted) do carinha que é o protótipo do Gill de SF III em aparência.

Se ficaram curiosos (ou revoltados) com as informações acima, podem dar uma olhada mais afundo neste link do RCLLair (em inglês), que possui informações bem mais detalhadas, mesmo se enfocando mais no Ryu e na Chun-Li.

Mas no meio de tanta coisa maluca, existem alguns detalhes curiosos ou interessantes sobre esse manhua.

A primeira coisa a destacarmos, é que o público alvo dele é aparentemente de pessoas mais maduras, pois existem cenas de sexo e estupro (mesmo quando não é consumado) e suicídio no manhua. Ah, no que se refere as cenas de sexo e estupro, nenhuma delas é explícita (até porque isso não é um manhua hentai). Pode-se dizer que elas são tão ofensivas quanto as cenas de banho do Saga de Gêmeos em CdZ ou as de Pokémon (e não, não estou querendo insinuar que estupro é ok).

Logo na primeira edição, Ryu e Ken estão em um metrô e um pequeno grupo de arruaceiros, que parecem ser fãs do Kiss, começam a fazer arruaça e um dos membros tentam estuprar uma jovem e termina levando um hadouken do Ryu. Chun-Li é fruto de um estupro e a mesma quase foi estuprada mais de uma vez. E para a alegria dos tarados, há cenas de sexo entre Ryu e Chun-Li.

A primeira ocorre para salvar a vida dele. “WTF, como assim??? O.o” Para compreender direito, leia este artigo em inglês da wikipédia sobre práticas sexuais no taoísmo (até porque se fosse para eu explicar isso aqui, num daria mais para eu fazer esse review). A outra cena mostrada é na noite de núpcias dos dois (irei explicar mais abaixo sobre isso).

No que se refere a questão do suicídio, após o "Oni Ryu" ficar com uma garota que é caidinha pelo Ryu, ela percebe que o Ryu com quem ela tava ficando não era o Ryu original. E ela no final, descobre que estava grávida de uma criança demônio e se mata para que a mesma não venha ao mundo.
Chegando na questão do "Oni Ryu", não se deve confundi-lo com o Evil Ryu. Na verdade, o "Oni Ryu", é o demônio pessoal do Ryu, que surgiu em um dos seus treinamentos e se tornou “independente”. Tanto que além dele sair transando por aí, ainda possui o corpo de Ken e de Chun-Li em dados momentos da história (uia!). O que torna interessante o "Oni Ryu" é que temos um Ryu maligno aqui, antes daquele clone robótico dos gibis da  Malibu e até mesmo de Evil Ryu , que foi criado no mangá Street Fighter Zero do Masahiko Nakahira.

Falando no Ken, ele e alguns guerreiros morrem em um determinado momento, porém são ressuscitados mais tarde. Enquanto o coitado do Ken se dá mal no amor, Ryu é um sortudo e pede Chun-Li em casamento! E todos os street fighters são convidados, além de uns penetras que aparecem querendo briga!

Outra curiosidade, é que aqui temos o primeiro crossover de "Street Fighter vs Alguma Coisa", muito antes da Capcom resolver lançar X-Men vs Street Fighter!!!! Em algumas edições do manhua, temos a participação dos personagens de Fatal Fury 1 e Art of Fighter 1!!  

E isso muito provavelmente só ocorreu, porque nessas edições em específico, o manhua ainda não era autorizado.

Assim como acontece em Street of Terminator, o manhua de SF II faz várias referências a animes/mangás que faziam sucesso naquele momento. Por exemplo, existe um personagem (que pelo visto dá conselhos a Ryu) que deve ser irmão gêmeo (ou irmã) de Lady Miyako do mangá/anime Akira.

Outras referências a animes podem ser encontradas em algumas lutas, que fazem o estilo Dragon Ball Z de ser. E para quem curte história, o ex-presidente da antiga URSS faz algumas pontas no manhua!

Por fim, a última curiosidade que posso destacar (já que esse post está ficando grande demais) é o vilão que aparece nas edições finais da revista, quando eles viajam para o futuro. O cara é praticamente um clone do Gill em aparência (só que todo azul), mas com um ponto a favor dele: Foi criado anos antes do Gill!

O manhua, além de sua duração longa, também teve produtos derivados. Dentre eles há um jogo de tabuleiro, considerado bem raro de se encontrar, que mescla imagens oficiais do jogo com as originais do manhua.

Uma série de TV do manhua foi produzida, só que na Coreia do Sul! Sim, estou falando daquela série live-action que tinha até comunidade no falecido Orkut. E tem um detalhe meio bizarro: essa série possui autorização da editora do manhua, sendo assim, a série oficial do manhua, porém, neste período o quadrinho não tinha autorização da Capcom ainda, fazendo com que esse live action seja pirata!

E é interessante notar o quanto o manhua influenciou outras produções coreanas, pois os demais live-actions lançados e até mesmo o anime longa metragem coreano de 92, foram bastante influênciados por ele em sua criação, vide que praticamente todos afirmam que a história se passa após uma grande guerra.

Street Fighter, Street Fighter Q, Young Street Fighter e Maenggu Jjanggu Street Fighter II

E ainda temos um artbook oficial "Street Fighter II: The World Warrior Variety Book" (também conhecido como "Street Fighter II Asia International"), com diversas ilustrações do manhua e textos sobre os personagens. O artbook pode ser encontrado em alguns sites de compras internacionais, como o Ebay.

Após o término do manhua, ainda foi lançado, de maneira não-oficial o seu "sucessor espiritual", chamado Super Fighter, que continuou a história, tendo os nomes dos personagens alterados. Teve 100 ediçoes em 93 e no relançamento em 2004, eles foram compilados em 29 volumes.

Então, se você é fã de SF, que gosta desse tipo de cusiosidade, vale a pena ir atrás do manhua (e até dos seus produtos extras) a título de curiosidade, mas sempre tendo em mente que tudo o que está ali não possui ligação nenhuma com os jogos, já que eles são uma verdadeira personaficação do caos para quem espera algo mais fiel. Quem quiser baixá-los, pode ir no Street Fighter Manhuas (já que o Keiko Ganbare, blog em que descobri esses scans terminou 😞 ).

Para terminar, deixo com vocês uma imagem do primeiro beijo dos meus queridinhos de SF… xD See ya!!!