Nihao pessoal. Dessa vez irei diretamente ao assunto.
Muitos ficaram indignados com o novo traje de Laura Matsuda, acusando a Capcom de sexismo e de objetificação da mulher brasileira e, até mesmo da mulher negra (sério), esquecendo que Laura é na verdade mestiça.
Existem dois pontos a serem levantados aqui.
O primeiro é quanto a questão do sexismo e da objetificação. Curiosamente, a esmagadora maioria que se queixa disso, é a mesma que há uns meses atrás, praticamente gozou, gritou, pediu "manda mais Senhor" o "hot Ryu", e comemorou a atitude da Capcom por ter deixado o personagem sensual, agradando tanto o público feminino (eu inclusive fiquei histérica), quanto o público gay.
A questão da sensualidade sempre existiu nos videogames, desde o tempo do Atari, com jogos eróticos. Como, devido a uma série de fatores, o público masculino era maior, então, o fanservice era mais voltado a esse público. Com o passar do tempo, e o público feminino ganhando mais espaço, aos poucos as empresas estão fazendo algo voltado também para eles.
Eu particularmente, não vejo problemas nisso, pelo contrário. Eu, como assumi anteriormente, sou gamada no Ryu e em diversos outros personagens (incluindo o peladão do Dark Schneider) e, se os rapazes podem ser agraciados com a sensualidade feminina, porque eu não poderia ter os personagens masculinos? Sou a favor de um equilíbrio, onde o fanservice seja para ambos. Sem contar que eu gosto, e até me identifico, com personagens consideradas sensuais, como Morrigan Aesland e Anna Willians. Sem contar, que também sou a favor de uma diversidade maior entre personagens e dentro desse contexto, cito o Bob da série Tekken, que saiu um pouco do esteriótipo comum a personagens gordos em fighting games.
Porém, algumas feministas (salvo exceções), são contra a sensualidade em jogos, se esta for focada em personagens femininas, pois seria objetificação. Caso o foco esteja em personagens masculinos, como é o caso do nosso gostoso japonês soltador de hadoukens barbudo, não teria problema, pois o homem como opressor estaria sofrendo apenas a reação do oprimido, quando não, lavam as suas mãos, pois isto não é problema das mulheres, mesmo elas tendo o discurso de serem contra o sexismo e possíveis formas de objetificação e sexualização.
E infelizmente, são estas feministas – lembrando mais uma vez que deixei claro que existem feministas e feministas – que querem ter voz e ditar o que os jogadores e jogadoras devem gostar ou não, tendo inclusive alguns que compram esse discurso, mesmo não percebendo a hipocrisia existente nele. Sim, hipocrisia, pois a partir do momento que você se posiciona contra o sexismo e a sexualização de personagens, isso deveria abranger todos os personagens, independendo de seu sexo ou gênero, pois se é errado, por exemplo, colocar a Chun-Li em trajes mínimos devido a objetificação da personagem e o sexismo, onde vemos uma mulher que foi transformada em um objeto de admiração (e outras coisas) para homens, seria igualmente errado fazer isso com um personagem masculino.
O segundo ponto a ser comentado, é quanto a própria imagem da mulher carioca. Acredito que todos aqui sabem a imagem que o Brasil exporta, incluindo a de suas mulheres. E além disso, temos a própria questão das cariocas.
Ono, em uma entrevista, deixou claro que a inspiração do cenário do Brasil em SF V veio de uma viagem que ele fez ao Rio de janeiro. Tanto que, apesar de alguns detalhes, o cenário está bastante fiel de uma maneira geral. Fica claro ali a “pesquisa de campo” de Ono e isso também influenciou na criação de Laura Matsuda. Laura é uma moça alegre, mestiça e possui uma sensualidade comum na mulher carioca.
E o novo traje de Laura reflete isso. No tempo que vivi no Rio (praticamente uma vida inteira, excetuando os poucos anos que morei fora do estado), cansei de ver moças com trajes similares e até menores do que os da Laura, como podem ver no pequeno rabisco que fiz abaixo, onde ilustro a roupa que vi uma moça usando, na última vez que fui ao Rio (esse mês). Isso porque eu estava bem longe da praia!
Então, o traje de Laura, nada mais é do que o reflexo disso. E inclusive, deixo com vocês a seguinte questão. Sendo a roupa de Laura um reflexo do que se vê no Rio, seria certo proibir? Se tentarmos mudar a maneira de como a carioca se veste isso também não iria de contra uma coisa que o próprio feminismo diz lutar, que é a autonomia das mulheres se vestirem como quiserem? E não seria hipocrisia pedir mais “Hot Ryus” nos jogos e querer limar “Lauras”?
Quem leu até aqui, um muito obrigado e fiquem a vontade para discutir. Esse artigo também está disponível no Portal Fighters, para quem quiser dar um pulinho lá.
Até a próxima e um recado aos hipócritas de plantão:
Se bateu palmas para um, mas quer acabar com o outro, isso tem um nome, que está no título do artigo: HIPOCRISIA.
3 comentários:
Concordo totalmente com seu texto, Bia. O traje nada mais reflete a vestimenta das mulheres não só do Rio como no país todo. O que mais vejo é pré-adolescente com roupas extremamente curtas. Mas os SJWs dão chilique por qualquer coisa, então não me surpreende, hahaha!
Bia, o texto ficou muito bom, perfeito seu raciocínio. Muitos militantes pregam diversidade, mas uma diversidade ditada por eles, falam em liberdade de expressão, mas desde que seja alinhada as ideias deles, do contrário, você é um reacionário ou algum outro rótulo mais fácil. E o pior é que esse povo, em geral, recebe dinheiro público para fazer essas campanhas. Claro, tudo alinhado a um só pensamento, o debate de ideias e o contraditório é praticamente um crime. Se nos anos 60, o mala do Caetano falava em "É proibido proibir" hoje, o lema é, "É proibido pensar e discutir ideias".
Ótimo texto, e que o videogame prossiga firme e forte. O desenvolvedor de jogos deve ter liberdade de criar, e nós, consumidores, de criticar, mas nunca tentar censurar um personagem ou uma ideia dentro do jogo.
Não sou de comentar, mas nesse caso faço questão de enaltecer a ponderação de seu texto.
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